Nada denigre mais do que a miséria. 

Seres humanos agonizam neste momento.

Enquanto uma minoria esbanja sem preocupação com o dia seguinte, mais de 780 milhões de pessoas passam fome no mundo.

Falta de perspectiva marcam a infância de milhões de crianças no mundo

E foi durante uma pandemia, a Covid-19, que tirou a máscara e expôs mais uma vez, uma das faces mais sórdidas da humanidade: a desigualdade social.

Na República Centro Africana, em abril deste ano, cerca de 370 mil crianças estavam deslocadas dentro do país devido à violência de grupos armados.

No Iêmen, 1,7 milhões de crianças tiveram que abandonar suas casas por causa da violência e agora estão deslocadas no país.

São 8,9 milhões de crianças sem acesso à água potável, saneamento básico e higiene.

A cada dez minutos, uma criança morre de causas que poderiam ser evitadas, no Iêmen.

É assim no Oriente Médio. Na América Central e na América do Sul. É assim na África e em outras partes do planeta.

Elas sentem medo, param de estudar, são forçadas a abandonar suas casas, suas comunidades e conviver diariamente com a falta de alimentos e de água.

Viram anjos sem rumo. Sem um lugar fixo. Ficam sem chão. Sem referência. Vivendo em acampamentos improvisados sem infância.

Ao mesmo tempo em que Jeff Bezos, o homem mais rico do mundo, torrava uma pequena fortuna em um passeio de onze minutos ao espaço, onde um assento custava US$ 28 milhões, crianças no Haiti comiam bolacha de barro e africanas bebiam urina para não morrerem de sede.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 2020, os trabalhadores do mundo perderam o equivalente a 225 milhões de empregos em tempo integral, tornando o impacto econômico da pandemia muito maior do que aquele causado pela crise financeira de 2009.

Por sua vez, com o fechamento das fronteiras e restrições de circulação, o mercado de produtos de luxo teve um aumento no planeta de mais de 90%.

Desalento, fome e privação

Relatório feito pela Bloomberg apontam que neste ano, o mercado de bens de luxo pessoais deve superar os níveis de 2019, o que indica forte recuperação em relação à 2020.

Itens como bolsas e jóias devem somar US$ 325 bilhões (283 bilhões de euros) este ano, segundo estimativas publicadas pela Bain & Co., na segunda semana de novembro.

No total, os gastos de luxo, que não inclui estadias em hotéis sofisticados ou viagens de cruzeiro, devem chegar a 1,1 trilhão de euros este ano, abaixo dos 1,3 trilhão de euros de 2019.

Em um dos países mais desiguais do planeta, o Brasil virou o lugar perfeito para uma loja de grife internacional. 

Em 2020, em plena pandemia, os milionários brasileiros gastaram mais de R$ 25 bilhões em carros e centenas de milhares de reais em roupas, sapatos, bebidas, comésticos e artigos de luxo.

Para a Euromonitor Internacional, a projeção do mercado até 2025, é um crescimento de 34% em vendas aos alienados ricos brasileiros.

No mesmo país da turma sem empatia que vive no topo da pirâmide, parceiros ligados a UNICEF fizeram chegar, através de doações de campanhas, produtos essenciais de higiene e limpeza a 1,8 milhões de pessoas.

Foram doados também, 45.754 cestas básicas para famílias vulneráveis em nove estados brasileiros.

Graças ao trabalho de voluntários brasileiros e estrangeiros em parceria com a UNICEF, foram localizados crianças e adolescentes que estavam fora da escola no ano passado.

Este trabalho gerou 30.357 crianças e adolescentes (re)matriculadas na escola. Além disso, 7.868 novos profissionais estão participando de curso online para a implementação da estratégia que ajude estados e municípios a encontrar crianças e adolescentes que permanecem sem estudar.

Estudos desenvolvidos pela ONU projetam um futuro ainda mais tenebroso. Caso não sejam tomadas medidas para melhorar a saúde e a educação até 2030, cerca de 167 milhões de crianças vão viver na pobreza extrema.

No Brasil, onde 1% da população fica com 49,6% da riqueza total, a miséria se alastra como uma praga sem controle.

Somente em Brasília, de acordo com a Secretária de Desenvolvimento Social(Sedes), vivem pelas ruas mais de 2,1 mil pessoas.

Brasileiros sem identidade. Sem rosto. Sem nome. Sem futuro.

O país voltou para a mapa da fome. Da sexta maior economia do mundo em 2011, após ultrapassar o Reino Unido, e caminhando para tomar o quinto lugar da França, hoje o Brasil ocupa a 13ª posição do ranking.

Hoje, mais de 40 milhões de pessoas vivem na extrema pobreza. 

São mais de 14 milhões de desempregados, 6 milhões de desalentados (trabalhadores que desistiram de procurar emprego) e mais de 7 milhões de sub-ocupados, num total de 27 milhões de brasileiros sem renda ou com renda parcial, ganhando em média, segundo a Fundação Getúlio Vargas, R$ 246.00 (US$ 47) por mês. 

De dez famílias brasileiras, cinco vivem hoje com dois salários mínimos.

Cresceu assustadoramente o tamanho das filas do osso e da carcaça de frango nas principais cidades brasileiras. São mais de 19 milhões de pessoas passando fome no país. 

Deixou de ser algo incomum ver gente buscando alimentos em caminhões de lixo.

O Brasil, é bom lembrar, é um dos três maiores produtores e exportadores de alimentos do planeta.

E saber que este mesmo país da miséria e da fome já viveu o pleno emprego em 2014, com uma taxa de 4,8% (hoje a taxa é 14,6%) de pessoas sem trabalho. 

Naquele período, um trabalhador levava em média, cinco meses para conseguir trabalho com carteira assinada e com todas as garantias da lei. Hoje são dois anos de procura, e a grande maioria em subempregos ou em trabalhos temporários sem nenhuma garantia.

Segundo o IBGE, a renda da turma dos ricos, em média, é de R$ 15.816 por mês. Já o rendimento mensal dos 50% mais pobres é de R$ 453. 

Segundo pesquisa da C6 Bank/Datafolha, quatro milhões de brasileiros, entre seis e 34 anos, abandonaram os estudos no ano passado. 

Não pode existir futuro para um país sem cultura e educação!

A evasão escolar, que este ano foi ainda pior, gera consequências severas aos jovens em renda e saúde ao longo da vida.

Essa violação do direito à educação gera um perda de algo em torno de R$ 220 bilhões por ano, 3,3 do PIB, ao país.

Diante deste quadro absurdo e desumano, fica difícil entender o apoio de brasileiros pobres a um governo declaradamente elitista, e pior, de extrema direita. 

Um governo sem nenhum plano propositivo para o combate à miséria, ao desemprego e a fome de milhões e milhões de brasileiros.

Um governo que corta verbas públicas e acaba com programas sociais extremamente importantes e necessários para um país de terceiro mundo, subdesenvolvido, onde mais de 60% de sua população é pobre.

Um país que possui, por castigo ou azar, uma das piores “elites” do mundo: mesquinha, alienada e perversa.

Uma classe que ignora o país em que vive. Distante da realidade da maioria da população. Que em sua prepotência burra, olha para o pobre com indiferença, como se a realidade brutal do Brasil não existisse.

Uma gente que pela sede de poder e para não perder privilégios é capaz de qualquer coisa. 

É capaz de apoiar golpes de estado e uma ditadura militar. E é capaz de apoiar em plena democracia do século 21, uma figura grotesca como o atual presidente e alguns oficiais das forças armadas, velhacos golpistas e inúteis. 

Aqui não é uma questão de ser de direita ou de esquerda. É muito mais sério. É algo que deve estar bem acima do fanatismo ideológico. É uma questão pura e simples de decência moral e ética.

Estudos recentes apontam que mais de 20 milhões de crianças até 14 anos passam fome no Brasil.

Hoje, agora, neste exato momento, mais de 70 mil crianças, entre meninos e meninas, estão morando, vivendo pelas ruas das principais cidades brasileiras.

Anjos perdidos, vagando por um país de miseráveis em todos os sentidos. 

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