Tenho uma leve suspeita sobre Beethoven, o maior compositor da humanidade.
Se tivesse nascido no sul do Brasil do século XX, acho que seria um gremista de quatro costados.
Ambos são universais: um através da música. O outro através do futebol.
Dois gigantes. Dois Imortais.
Transitam e transitaram com desenvoltura pelos caminhos tortuosos das paixões.
Sentimentos que alternam comportamentos e pensamentos.
Relações complexas de amor e ódio.
Ligados pelo sangue alemão, ambos estão marcados na História.
Suas trajetórias são incontestáveis.
Discreto e apaixonado, Beethoven vibraria com as conquistas do Grêmio pelos gramados mundo afora.
Vestiria, quem sabe, a camisa que jamais foi contaminada por qualquer outra cor com a mesma altivez de todo gremista.
Com sua peculiar sinceridade, diria em alto e bom som que ela é única e a mais bonita do mundo.
O tricolor é a conjugação perfeita da palavra futebol.
Que foi criado oficialmente em 26 de outubro de 1863, na taberna londrina Freemason’s, utilizando como base o Código de Regras de Cambridge, elaborada por estudantes, em 1848.
Já o Grêmio nasceu no dia 15 de setembro de 1903, no centro de Porto Alegre, por um grupo de comerciantes, filhos de imigrantes italianos, portugueses e alemães, na sua grande maioria.
No ano da graça de fundação do tricolor, a atividade muscular do coração começou a ser medida pelo eletrocardiograma; o Prêmio Nobel de Física foi concedido aos físicos Antoine Henry Becquerel, Pierre Curie e Marie Curie pela descoberta da radioatividade; Londres tinha a maior população do mundo (6,6 milhões de habitantes); nascia Candido Portinari, George Orwell e Ary Barroso; Rodrigues Alves era o presidente do Brasil; Borges de Medeiros o governador do Rio Grande do Sul e Porto Alegre tinha 75 mil habitantes.
O Grêmio carrega ao longo de sua existência o espírito germânico, revigorado ano após ano, toda vez que entra em campo determinado a lutar até o último minuto, independente da situação.
Amar um clube é muito mais do que amar uma mulher, dizia Armando Nogueira.
Paixões surgem e passam. Podem nascer e morrer pelas circunstâncias da vida. O amor pelo clube do coração fica. Não muda jamais. Não importa o que aconteça. Aquece. Esfria e depois renasce para permanecer.
O tricolor predestinado tem a garra charrua como parte de sua essência.
Suas conquistas e façanhas, a maioria inimagináveis, parecem terem nascidas juntas.
Não existe nada mais gremista e verdadeiro do que isso!
Um clube capaz de arrancar do coração de um poeta como Lupicínio Rodrigues, um hino que celebra a fidelidade capaz de desafiar todo e qualquer obstáculo para estar ao lado do seu time.
Em 118 anos de vida, o Imortal conquistou todos os títulos que um clube de futebol pode almejar.
Poucos chegaram lá.
Um grupo muito restrito tem o privilégio de olhar o Grêmio da mesma altura.
Remeto ao início e vem a imagem!
No canto de uma sala uma sombra inclinada sobre a face de um piano quebra suavemente o silêncio naquele ambiente obscuro.
O som toma conta de cada canto da casa e conquista a rua através de uma janela semi aberta de cortinas ao vento.
O som vai ganhando força e uma fanfarra em dó maior acompanhada de trombones tocados com toda energia.
No espelho, imagens épicas onde homens de valor transpiram lutas. Pernas cruzam o ar enquanto um esférico desliza pelo tapete verde do tempo.
Depois de três grandes saltos, os acordes amortecem para reunir forças e se elevarem ao ápice da escala, para descerem direto e intenso em direção de um final exuberante.
Essa é uma homenagem simples, singela e silenciosa de Beethoven dos meus sonhos ao clube do meu coração.
Parabéns Imortal! Vida longa.
Esteja você onde estiver.
Nota da Redação
Em um show, Adriana Calcanhoto cantou uma versão arrepiante do Hino do Grêmio. Para assistir, clique aqui.