Ninguém é feliz. A felicidade não existe. É uma utopia. Ninguém consegue ser otimista e feliz o tempo todo. O homem, na verdade, tenta desesperadamente ser menos infeliz. Numa busca constante. Determinada e nem sempre bem sucedida.
A felicidade é efêmera. Uma linha tênue entre um estado constante e um outro esporádico. Simples, como viver e morrer.
Entre frustrações e fracassos sobram desilusões e arrependimentos carregados de amarguras e abandonos.
O homem transita num campo entre constrastes e contradições. Indefinido. Sem lógica. Imperfeito e feio. Mal resolvido. Com mais defeitos do que virtudes. Normalmente mau caráter e indigno aos olhos de Deus.
Se a beleza circula livremente e harmoniosamente no feminino, o mesmo não podemos dizer do masculino.
O homem é um ser perigoso na sua essência. Um retumbante fracasso. Nada confiável. Perigoso. Traiçoeiro. Invejoso. Ganancioso. Mesquinho. Mentiroso. Carrega todos os pecados possíveis e inimagináveis. Dúbio.
Quando aparece um suspiro de racionalidade, de criatividade, sem muita base para explicar ou dar razão, desaparece com a mesma velocidade que surgiu. Dura um tempo. Dura um vento.
O superior, sublime manifestação espiritual, raro e inexplicável aos olhos e aos sentidos, materializa-se como um sol estático diante da luminosidade de um poema, de uma tela, de uma música, de uma obra de arte assim definida, assim concreta e eternizada.
Nada é capaz de explicar e até dimensionar aquele lampejo. Algo que vai, na maioria das vezes, muito além de toda capacidade e compreensão humana.
Aristóteles (384-322 a.C.) criou uma série de teses baseadas em observações e pensamentos que caminhavam nesse sentido.
Sua filosofia foi ensinada por dois mil anos sob o sol da Macedônia, onde instruiu o menino Alexandre, que mais tarde se tornaria Grande, chegando a Oxford, na Inglaterra, passando por Paris, na França e Frankfurt, na Alemanha.
Para aplacar aquelas ideias de ciência natural, da observação e independência do ser e sua fria análise, seu estado de liberdade e democracia plena, difundidas pela filosofia antiga (ensinamentos de gregos pagãos), a igreja contra-atacou, entrando em ação teólogos e monges, que trancados em mosteiros e cercados de livros que nenhum outro ser poderia tocar sob pena de condenação ao fogo eterno, teve início o primeiro conflito entre observação e fé, que foi evitada mais adiante, pelos intelectuais da igreja, onde muitos foram sumariamente executados, alguns amarrados em troncos e incendiados vivos em praças públicas.
Figuras como Tomás de Aquino e Alberto Magno, promoveram uma ideia um quanto tanto estranha e pouco simpática, ao mesclar cristianismo e aristotelismo (Jesus, por certo, afastaria tal ideia!).
E este estado de luta constante entre espírito e matéria tem feito o mosaico de toda existência humana.
O magnífico, sútil efeito mágico da grandiosidade que expõe de forma indivisível o homem diante da natureza, transforma todos os dogmas da igreja em aberrações criadas e impostas por homens com mais defeitos do que virtudes. Pecadores. Condenáveis.
E nesse quadro meio apocalíptico está o homem comum. Que não é santo. Que não será santo. Ridículo. Ridículo em todos os sentidos. Chamado de centro do universo.