Projeto tenta concluir a Sinfonia Inacabada de Beethoven

Quando morreu, em 1827, aos 56 anos, Ludwig van Beethoven tinha conseguido terminar nove sinfonias. Todas conhecidas e há dois séculos executadas em todo o mundo. 

Um pouco antes de morrer, o maior compositor da humanidade começou a trabalhar naquela que poderia ter sido sua Décima Sinfonia. 

Ninguém sabe o que ele pretendia com aqueles rascunhos, pequenos pedaços de partituras e um punhado de anotações encontrados entre seus pertences pessoais.

Vários músicos ao longo do tempo tentaram concluir a obra inacabada sem sucesso e milhares de fãs ao redor do mundo lamentaram e lamentam por ele não ter concluído sua última obra.

Contam que a tal Décima Sinfonia era uma encomenda para a Real Sociedade Filarmônica de Londres.

Em uma Sinfonia não há instrumento principal de destaque, embora existam solos ocasionais de um ou outro instrumento no percurso da obra. Normalmente, são os naipes de cordas que carregam a melodia principal da Sinfonia.

Em vez de três (como ocorre no Concerto), as Sinfonias possuem quatro movimentos: o primeiro de andamento rápido (podendo ou não ter uma introdução lenta); o segundo lento; o terceiro geralmente um minueto ou scherzo, que em italiano significa “brincadeira” ou “capricho”, e o quarto e último movimento (finale) tem como características semelhantes a do primeiro movimento, com andamento rápido.

Joseph Haydn, que foi professor de Beethoven em Viena, usava o termo scherzo para descrever alguns de seus minuetos acelerados, enérgicos e ternários, que Beethoven revigorou ainda mais.

Aliás, a posteridade apelidou Haydn, Mozart e Beethoven como “Trindade Clássica Vienense”.

No início de 2019, o diretor do instituto The Mindshift and Karajan, de Salzburg, na Áustria, Matthias Röder, decidiu formar uma equipe internacional de especialistas para tentar finalizar a obra incompleta usando Inteligência Artificial (IA), através do Beethoven X: The AI Project: III Scherzo. Alegro Trio.

A ideia e a verba para o projeto partiram da empresa de telecomunicação Deutsche Telekom. Participaram do time o musicólogo Robert Levin, de Harvard University, o especialista em inteligência artificial, Ahmed Elgammal, da Rutgers University, o maestro Mark Gotham, da Cornell University, o compositor austríaco Walter Werzowa, e a musicóloga alemã Christine Siegert, do Beethoven-Haus Bonn.

A parte da Inteligência Artificial foi feita pela startup de IA criativa Playform AI.

O especialista em IA, Ahmed Elgammal, explicou: “Para esse projeto em particular tentamos entender o estado da arte na produção de música. E tentei ver quais são as limitações. Acabamos usando alguns módulos inspirados no processamento de linguagem natural. Eles já foram usados na criação de música, mas tentamos levar isso além e criar sequências cada vez mais longas e entender a estrutura musical em nível diferente, a ponto de podermos realmente gerar música com sentimento”.

Para obter tal resultado foram analisados e convertidos em dados para serem usados no método de aprendizado da máquina, sinfonias, rascunhos, notas, esquetes musicais e partituras de Beethoven.

A partir dos esboços a IA construiu as partituras. Depois, um pianista apresentou em uma pequena sala no museu para um grupo de jornalistas, acadêmicos de músicas e especialistas.

Os presentes foram desafiados a identificar onde terminava a composição de Beethoven e onde começava a parte feita pela IA. Ninguém na plateia conseguiu.

Alguns dias depois o mesmo processo foi repetido. Dessa vez com um quarteto de cordas com as mesmas partituras.

Somente algumas pessoas presentes que conheciam intimamente os esboços de Beethoven conseguiram identificar quais partes foram geradas pela inteligência artificial.

Algoritmos foram adaptados para essa tarefa, incluindo processamento de voz. A música, como a linguagem, é composta de pequenas unidades (notas) que geram significado quando colocadas juntas.

O resultado final foi um sistema capaz de compreender o estilo do compositor. Os rascunhos, fragmentos e anotações de uma possível Sinfonia serviram de base para a IA expandir os movimentos, refletindo o estilo da obra do gênio alemão.

As sugestões de notas feitas pela inteligência artificial eram analisadas pelos musicólogos, que selecionavam as melhores alternativas e as compilavam no sistema, que repetia o mesmo processo.

“A IA nos permite criar a continuidade de um movimento em 20 ou até 100 versões diferentes. E isso é simplesmente incrível, porque quando feito com precisão algorítmica, todo resultado experimental é plausível”, comenta Robert Levin, ao site alemão.

Ao vasculhar os rascunhos do compositor, os especialistas encontraram ideias relacionadas a um coral.

E agora, o que ele pretendia fazer?

É algo que ficará sem resposta e ninguém, muito menos uma máquina das mais avançadas poderá responder.

Lógico, muitas coisas escritas por Beethoven são ideias abstratas e a IA não é eficaz ao ponto de compreendê-las totalmente. Afinal, estamos falando de um ser humano e de Ludwig van Beethoven.

A gravação completa será lançada no dia 9 de outubro de 2021, no mesmo dia da apresentação da estreia mundial que acontecerá em Bonn, Alemanha, cidade natal do compositor, resultado de um trabalho que levou mais de dois anos.

Clique aqui para ver um pequeno trecho de três minutos e meio da Décima Sinfonia de Beethoven.

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