Olá, empreendedores, eu sou o Professor Clóvis Castelo Júnior especializado em gestão e negócios e esta é a coluna sobre Negócios & Empreendedorismo do Portal anotíciausa.com

 

Gostaria de fazer uma pergunta: alguma vez, no intervalo de uma conversa em um almoço de família ou com amigos, você, por impulso e quase sem pensar, sacou seu smartphone do bolso (ou da bolsa) e foi dar uma olhadinha em sua timeline no Facebook ou no feed do Instagram e curtiu sem ler alguns posts sem importância de conhecidos ou de desconhecidos? 

Ou ainda, em pleno domingo assistindo a um filme na Netflix em companhia de um filho ou de seu cônjuge, você se pegou checando suas mensagens no WhatsApp pela enésima vez nas últimas duas horas (vindas de grupos de discussão com os quais você nunca interage) ou mesmo respondendo mensagens profissionais sem urgência imediata só para “adiantar” e matar aquela “vontadezinha de responder” e também de esperar pela resposta?

Pois é….

E quantas vezes notou (e às vezes até se irritou) com outras pessoas (as vezes até com seu parceiro ou parceira) fazendo a mesma coisa? Ou notou em uma reunião de trabalho (presencial ou virtual), outros participantes com a visão desviada para as telas de seus celulares enquanto você fala? 

Claro, há sempre uma desculpa e uma pseudocompreensão tácita entre todos que estão trabalhando, fazendo coisas importantes, respondendo a demandas inadiáveis e que precisam ser respondidas já, porque senão depois já era…

Sim, tempo é dinheiro e as coisas acontecem mais rápido do que podemos reagir. Para isso, precisamos de computadores mais velozes, celulares mais inteligentes e aplicativos mais eficientes… E quando juntamos o vício digital com a sensação de que tudo é importante e é para ontem, sentimos precisamos estar sempre conectados e prontos para tudo. Quando percebemos, temos dois computadores de alta performance; em nossa mesa (que mais parece uma estação de trabalho da NASA) repousam dois celulares (o pessoal e o da empresa) cada um deles com dual chip, além, é claro, do tablet. Isso sem contar a quantidade imensa de aplicativos baixados nesses devices dos quais 10% deles, no máximo, usamos com uma boa frequência. As memórias lotadas tornam esses equipamentos mais lentos… e aí então, precisamos de outro smartphone. E o ciclo que nunca parou de verdade, recomeça…

Essa descrição parece exagerada, carregada nas tintas para exemplificar uma imagem de nossos dias, mas será que realmente é um exagero?

John Hassard, pesquisador inglês das relações de trabalho contemporâneas cunhou o termo “Cultura da Instantaneidade” para tentar compreender essa nossa mentalidade que gera sensações simultâneas de “aceleração” e compressão do tempo. Ou seja, o tempo parece que passa mais depressa e com mais coisas para fazer ao mesmo tempo, também parece que se encurtou. 

Ao tentar nos adaptar e sobreviver pessoal e profissionalmente a esses tempos pós-modernos, frequentemente exageramos. Seja nas atitudes ou adquirindo (de forma paga ou gratuita) e consequentemente acumulando, mais objetos e serviços do que realmente precisamos e que, real ou virtualmente, ocupam espaço inútil em nossas já sobrecarregadas mentes e corpos e espaços de convivência.

Sim, a tecnologia é muito mais do que uma ajuda, de fato, é um recurso mais do que indispensável que permite que façamos mais, melhor e mais rápido. No entanto, e por isso mesmo, caímos de forma frequente e quase inconsciente na “armadilha” dos excessos que isso pode trazer. O resultado quando estamos mais fragilizados é uma angústia ou uma mal disfarçada ou mesmo mal compreendida sensação de opressão. 

Calvin Newport é o autor do livro Minimalismo Digital

Esse contexto é a inspiração e pano de fundo para o tema deste nosso episódio: o minimalismo digital. “Minimalismo Digital – Para uma vida profunda em um mundo superficial” é o título do livro do americano Calvin Newport, professor de ciência da computação na Universidade de Georgetown e autor de outros cinco livros traduzidos em mais de 20 idiomas. 

Segundo o autor, os minimalistas digitais têm repensado sua relação com as tecnologia ao utilizá-la de maneira produtiva e saudável, na medida adequada, evitando a “conectividade tóxica” e redescobrindo os prazeres do mundo offline, ao reconectar a sua essência através de períodos regulares de quietude. Assim, ele compartilha estratégias para integrar essas práticas em sua vida, iniciando com um processo de “faxina digital” (ou detox digital) de 30 dias que já inspirou muita gente a se sentirem menos sobrecarregadas e com maior controle de suas vidas.

O minimalismo é a arte de saber o quanto é suficiente. O minimalismo digital aplica essa ideia ao nosso uso da tecnologia. Esse é o segredo para vivermos uma vida focada em um mundo cada vez mais caótico. Em outras palavras, essa estratégia ensina a usarmos a parte boa da tecnologia sem deixar que a parte ruim nos afete. Afinal, a tecnologia não é inteiramente boa nem ruim. O segredo é saber usá-la com sabedoria para viabilizar nossos objetivos, em vez de ser usado por ela. 

Antes de compreendermos a abordagem minimalista ao uso da tecnologia, vamos entender melhor do que se trata o chamado “minimalismo”. 

Já ouviu falar daquelas pessoas que tem no máximo dez peças de roupas, moram em casas bem pequenas, fazem dieta macrobiótica, não ligam para dinheiro e usam roupas claras e esvoaçantes, então, minimalismo não tem nada e ver com isso…

Embora algumas pessoas que se dizem minimalistas possam se encaixar em parte nessas imagens estereotipadas, essa não é a realidade da grande maioria dos praticantes desses princípios em relação ao consumo e uso de bens e recursos. 

Como o próprio nome sugere, minimalismo se traduz como a iniciativa de ter apenas as coisas realmente necessárias. É da adoção de uma vida mais simples, em que a felicidade não está associada ao acúmulo de posses, mas ao significado que as pessoas dão a cada item que consomem.

A ideia é valorizar menos a posse de bens e mais as experiências que o uso desses bens pode proporcionar. Algo como, valorizar os momentos de uma viagem de sonhos ao invés de gastar muito tempo comprando muitas lembranças da mesma viagem. 

Minimalismo está ligado ao chamado “consumo consciente” e está relacionado ao equilíbrio, ou seja, a capacidade de fazer escolhas mais racionais e eficientes, não somente gastando menos e acumulando menos coisas, mas adquirindo e utilizando o quê  você realmente precisa na medida necessária. É compreender o que realmente é útil e valioso em sua vida e em seu dia a dia. 

É um exercício de autoconhecimento. Inclusive, a eficiência do minimalismo está na adequação à realidade de cada pessoa que adequa os princípios minimalistas às circunstâncias e necessidades de sua vida. Afinal, as necessidades de uma pessoa solteira são diferentes de um casal com três filhos…

Outra palavra também associada ao minimalismo é o desapego. Ou seja, renunciar a alguns bens materiais em nome de uma vida mais focada em experiências e no valor delas. O minimalismo pode ser compreendido também como a opção por uma vida mais simples baseada em escolhas inteligentes. 

E simplificar não significa piorar.

Quando identificamos o que não é necessário, começamos a tomar decisões mais conscientes e isso acaba nos libertando de medos, angústias, culpa e das armadilhas do consumo que nos sobrecarregam.

Entretanto, Minimalismo não deve ser adotado com radicalismo e muito menos de uma hora para outra. O quê também não implica, da mesma forma, em uma mudança abrupta em suas escolhas e hábitos. 

Assim, voltamos à proposta de Newport para um minimalismo digital.

Atualmente, na era digital, o maximalismo dominou, e crê-se que mais é melhor, ou seja, mais conexões, mais informações, mais opções. Entretanto, o livro revela que quando se fala de novas tecnologias, menos sempre é mais.

Para o autor, minimalismo digital é uma filosofia do uso da tecnologia na qual focamos nosso tempo online em poucas coisas cuidadosamente selecionadas e otimizamos as atividades com coisas que valorizamos tanto quanto o possível. 

Os minimalistas digitais transformam as inovações em ferramentas que suportam um bom estilo de vida. As pessoas recuperam o controle de suas vidas. Coerentemente aos princípios minimalistas, há várias formas de viver sob o minimalismo digital, e cada pessoa adequa essa estratégia às suas necessidades. É uma filosofia bem flexível, o que aumenta suas chances de sucesso.

São três os princípios do minimalismo digital:

A desordem custa caro: gastar o tempo com muitos aplicativos e dispositivos cria um custo alto quando nos  esquecemos do mais importante recurso que possuímos: nossa vida.

Otimização é importante: é importante pensar cuidadosamente como a tecnologia será usada, e não apenas quais delas serão usadas. 

3º. Intencionalidade traz satisfação: ter uma intenção em como aplicar as novas tecnologias traz satisfação. Você deve sempre se questionar a utilidade de um aplicativo. Sempre priorize a intenção no lugar da conveniência.

Para ajudar no processo de adoção do minimalismo digital o autor recomenda um “programa de trinta dias” constituídos de três grandes passos que vão desde à colocação de regras de uso das tecnologias, um período de “detox” ou afastamento das mesmas e, ao final, sua reintrodução consciente, determinando quais são de fato úteis na vida e como podemos usá-las para maximizar nossos valores.

Em outras palavras, será restabelecida a vida digital, limpando as ferramentas que distraem e viciam, e substituindo-as por um conjunto de comportamentos otimizados. 

Ainda para o autor, para sedimentar essas mudanças em nossas vidas devem ser observadas de forma constante as “Práticas essenciais do minimalismo digital”. Aqui vão algumas delas:

  • Passe um tempo sozinho
  • Não clique em curtir
  • Coloque seu telefone no modo de “Não Perturbe”
  • Estabeleça horários para conversar pessoalmente
  • Recupere o lazer saudável
  • Delete as redes sociais do seu smartphone

Podemos entender, ao meu ver, que a ideia do autor é a de que a libertação da dependência da tecnologia é o passo mais importante para conseguir viver de maneira minimalista. Não precisamos nos desfazer de nosso equipamentos e gadgets, mas precisamos aprender a usar as ferramentas que agregam valor, evitando as que não trazem benefícios. 

O minimalismo digital não é um conjunto de regras, é o cultivo de uma vida saudável e com propósito.

E aí? Já começou a refletir sobre como uso excessivo da tecnologia afeta sua vida? Senão, pense nisso a próxima vez que uma notificação chegar…

Muito obrigado pela atenção de todos 

Eu sou o Professor Clóvis Castelo Júnior especializado em negócios e gestão e este é coluna/podcast de Negócios & Empreendedorismo do portal anotíciausa.com; também acessível por iPhone e por celulares Android. 

Muito obrigado e lembre-se, a tolerância e o diálogo são o caminho.

Clovis Castelo Junior

By Clovis Castelo Junior

Clovis Castelo Junior é professor universitário, empreendedor no Brasil e nos Estados Unidos e mentor de startups