Olá, empreendedores, eu sou o Professor Clóvis Castelo Júnior especializado em gestão e negócios e titular da coluna Negócios & Empreendedorismo do portal anotíciausa.com. Neste episódio vamos comentar um livro muito famoso que pode ser extremamente interessante tanto para nossa vida pessoal quanto profissional e mesmo empreendedora.

 

Capa do livro ‘O Poder do Hábito’

A obra que vamos comentar é “O Poder do Hábito” do jornalista americano Charles Duhigg, ex-repórter do New York Times, vencedor do prêmio Pulitzer (que é considerado o Oscar do jornalismo). Publicado em fevereiro de 2012 pela Random House e no Brasil, pela Editora Objetiva. 

O livro tenta entender como os hábitos (que são padrões de comportamento automatizados em nosso cérebro) influenciam a vida cotidiana, tanto ao facilitar nossas tarefas como também ao criar alguns empecilhos e até comportamentos disfuncionais e potencialmente perigosos. Em vista disso, o livro discute também se os hábitos que nos fazem mal podem ser alterados e, da mesma forma, se podemos cultivar novos hábitos que nos tragam benefícios.

A ideia segundo o autor é compreender se podemos automatizar a nossa força de vontade, ao transformar esse recurso dolorosamente escasso em um potencial imenso de realizações. Segundo Duhigg, citando pesquisas do Massachusetts Institute of Technology (MIT), que mapearam os padrões de mudança cerebral, os hábitos são formados em regiões específicas daquele órgão, que são reconfiguradas a medida que novos hábitos surgem. 

Dentre outras descobertas destaca-se a de que os hábitos são resultados e condicionantes do mecanismo evolutivo da própria espécie, uma vez que tem a função de ajudar o cérebro a poupar energia e esforços. A partir do momento em que um comportamento se torna um hábito então a energia do cérebro é poupada, pois o indivíduo ao agir automaticamente não precisa mais pensar e decidir sobre o quê precisa fazer; simplesmente vai lá e faz.

Nesse sentido, portanto, os hábitos são uma adaptação evolutiva vantajosa à medida que automatizamos tarefas que de outra forma nos drenariam muita energia esforço. Um exemplo clássico é o hábito ou a habilidade de dirigir. Lembrem-se de quando éramos aprendizes ou mesmo motoristas novatos: dirigir para nós era sequência angustiante de gestos, atitudes e decisões que nos provocava grande ansiedade, pois éramos obrigados a não somente movimentar o volante na direção correta, mas também em prestar atenção no caminho, trocar a marcha, frear nos cruzamentos, prestar atenção nos outros carros, nas placas de trânsito e nos pedestres. E quando precisávamos dar marcha ré, então? 

Com o tempo, no entanto, todas essas tarefas nos ficam automáticas e tudo fica extremamente natural, como se o carro e motorista fossem uma coisa só. Uma amostra disso é que fica muito tranquilo enquanto dirigimos para ouvir música, conversar e até pensar em outros problemas, pois esse hábito já está devidamente sedimentado.

Para os pesquisadores os hábitos funcionam como loop, ou seja, uma repetição de reações e comportamentos em circuito fechado que possui os seguintes componentes:

  • A “deixa” que seria um sinal para desencadear ou iniciar um hábito uma motivação a 
  • A “rotina” que é uma ação específica um conjunto de ações algo parecido como um algoritmo e, finalmente,
  • A “recompensa”, isto é,  o alcance do resultado desejado.

Ausência de uma dessas etapas do loop impediria que um novo hábito se forme de forma completa.

Ao compreender a “dinâmica natural” do surgimento de um hábito, em tese, seria possível entendermos não somente como ele funciona mas também poderíamos manipular essa fórmula tanto para de modificar hábitos antigos já disfuncionais, como  para gerar novos que nos tragam novos benefícios. 

No entanto, na prática isso pode ser extremamente difícil – que o digam as pessoas que fazem dietas alimentares ou pretendem iniciar um esporte na segunda-feira.  

Para criar e principalmente incorpora um novo hábito não basta somente conhecer os fatores de sua composição, mas também de identificar na vida real o quê a eles correspondem: 

  1. O que seria uma “deixa” para iniciar um hábito que nos permita emagrecer e manter a saúde? Uma doença iminente? Um novo relacionamento? Um novo emprego?
  2. Qual seria rotina para gerarmos o hábito? Exercícios físicos regulares? Uma alimentação balanceada? 
  3. E os resultados que esperamos? Frear uma diabetes ou uma hipertensão? Apresentar-se bem para um parceiro em potencial? Passar boa impressão e ser promovido no trabalho?  Lembrando que nem todos estão suficientemente claros ou são conscientes para nós. 

As pesquisas também indicam que somente a presença desses componentes não é, de fato, suficiente para formar novos hábitos ou alterar hábitos antigos. Ou seja, para que um novo hábito surja e seja incorporado, conscientemente ou não, também é imprescindível a presença de um combustível para alimentar o desejo pela recompensa. 

Por exemplo, voltando ao caso das dietas saudáveis, as recompensas ligadas às rotinas precisam ser fortes o suficiente para que que desejemos mais. Por isso, os nutricionistas sempre alertam que é importante um cardápio que não somente seja nutritivo, mas também tenha refeições visualmente atrativas e saborosas. A ideia é a de que ainda possamos manter o prazer de comer ainda que tenhamos abandonado alimentos que gostávamos, mas que não nos faziam bem. 

Esse parece ser um exemplo interessante para compreender a famosa “Regra de Ouro” dos hábitos.  Tal regra diz que hábitos potencialmente ruins de qualquer natureza são muito difíceis de erradicar de nosso comportamento, uma vez que estão fortemente sedimentados em nosso cérebro. No entanto, podemos tentar reprogramá-los, ou seja, tentar alterá-los com a substituição por uma nova rotina que alcance as mesmas recompensas de forma diversa (e mais favorável para nós).

Existem vários outros exemplos dessa metodologia: dos alcoólicos anônimos que representa uma amostra de um programa consciente de mudança de hábitos, bastante reforçado por um propósito claro e concreto.

E o que isso tem a ver com os negócios?

Bem sabemos que qualquer tipo de empresa é formado não somente por regras procedimentos e políticas, mas principalmente por pessoas. E é facilmente observável que pessoas naturalmente utilizam comportamentos automatizados frente as situações do dia a dia. As formas de reagir a problemas e de buscar soluções tendem a ser condicionadas por hábitos que adquirimos ao longo da vida e no trabalho. Tais hábitos podem não ser sempre úteis ou benéficos para os negócios. 

Assim, a habilidade de perceber os hábitos desfavoráveis e o conhecimento de como tentar reprogramá-los por meio de novas rotinas conscientes de ações e mesmo de políticas, pode ser extremamente útil. As rotinas administrativas, mas também e muito o próprio processo de inovação pode ser extremamente beneficiado quando percebemos que o que fazemos hoje está no piloto automático e não mais atende às necessidades da empresa do cliente e do mercado.

Mesmo os relacionamentos com fornecedores e clientes podem estar reproduzindo hábitos antigos que não são mais indicados para um ambiente competitivo em constante mudança. A percepção dessa realidade pode ajudar líderes (gestores e os empreendedores) a revitalizar seus negócios e sintonizá-los com essas mudanças e manter a operação da empresa dentro dos padrões de excelência.

Naturalmente, mudar hábitos efetivamente não é tão fácil quanto ler um artigo ou um escutar um podcast, entretanto, é importante reconhecermos que não existe fórmula mágica para atingir qualquer objetivo e sempre são necessárias duas doses de inteligência, empenho e dedicação. 

E é por isso que recomendo a leitura do livro “O Poder do Hábito” de Charles Duhigg. Uma leitura relevante sobre um tema complexo, mas com uma linguagem agradável e acessível que não cai na armadilha da superficialidade do senso comum. Pode ser encontrado em formato físico e digital nas principais plataformas do mercado. 

E você meu amigo empreendedor já parou para pensar quais os hábitos seus ou da sua empresa estão prejudicando o seu caminho para o sucesso?

Muito obrigado novamente pela atenção de todos. Muito em breve voltaremos com mais um livro comentado nesta nossa coluna.

Muito obrigado e lembre-se a tolerância e o diálogo são o caminho.

Clovis Castelo Junior

By Clovis Castelo Junior

Clovis Castelo Junior é professor universitário, empreendedor no Brasil e nos Estados Unidos e mentor de startups